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Carla Bessa fala sobre a tradução de Bertold Brecht para Editora Lume

  • Foto do escritor: Editora Lume
    Editora Lume
  • 19 de abr. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 5 de jun. de 2024

Entrevista com escritora Carla Bessa para a Editora Lume:


Quais são as dificuldades de traduzir livros clássicos raros?

 

Traduzir clássicos é resgatar uma linguagem que já não usamos. E com esta linguagem vem a expressão de um tempo específico, com seus jogos e seus conflitos. O desafio é trazer para a nossa realidade este universo – no meu caso, trazer o alemão e a Alemanha dos anos 1930 para o português do Brasil dos dias de hoje –, fazendo-o soar familiar, sem transfigurar o original. Como a minha formação antes de ser tradutora é de teatro, eu sempre digo: “o texto tem que caber na boca”. E acho que isso vale não só para peças teatrais, mas para ficção de modo geral. Acredito que a tradução, sobretudo no caso dos clássicos, precisa ousar certa individualidade, o/a tradutor/a não deve ter medo de forjar um estilo próprio. E é uma grande alegria ter na Lume uma editora que dá respaldo a esse tipo de singularidade na tradução.



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A língua muda de tempos em tempos. Como atualizar a linguagem dos livros para o nosso tempo sem perder sua essência?

 

Isso é feito de forma diferente de livro para livro. Não há uma fórmula, até porque as linguagens também variam dentro da mesma língua e da mesma época. No texto que estou traduzindo, o Romance dos Três Vinténs, do Bertold Brecht, que usa uma sintaxe muito distinta do nosso português atual, mas também diferente do alemão contemporâneo, eu não trabalho no sentido de retirar esse estranhamento – até porque isso é o cerne da teoria brechtiana –, mas tento inseri-lo na minha tradução através de deslocamentos e elipses, de modo que, para o público brasileiro, a coisa soe altamente literária, mas familiar ao mesmo tempo.

 

O mercado editorial tem se desenvolvido e adotado novas tecnologias, como a inteligência artificial. Como essa ferramenta impacta o trabalho do tradutor? E qual é a importância do trabalho humano nesses tempos em que a tecnologia está ocupando cada vez mais espaço no dia a dia?

 

Acho importante não demonizar a inteligência artificial, e sim, ver como podemos utilizá-la a nosso favor. Pessoalmente, vejo vantagens em usar programas de tradução como um apoio, mas não acredito que vá substituir completamente o trabalho humano. Traduzir não é só transferir de uma língua para outra, mas mediar entre culturas, considerando ainda todas as especificidades dentro uma própria cultura. Ou seja, a gente traduz não só os textos, mas – e sobretudo – as entrelinhas. Não vejo como a máquina poderá nos substituir nisso.



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Qual é o preparo para traduzir livros clássicos? Você mergulha nos costumes, linguagem e história da época, bem como na história do autor? Como isso impacta no resultado final do livro?

 

Costumo ler outras obras da mesma autoria para ver se há especificidades de estilo que devem ser consideradas. Também leio o que encontro em literatura secundária para contextualizar. Mas, no fim das contas, acho que o trabalho central é com a obra em questão mesmo. O que vai deixar a tradução veraz são as muitas revisões, no sentido de tornar o texto fluido. Por mais paradoxo que pareça, creio que quando ouso me afastar um pouco do original para que ele se aproxime de mim – sem transfigurá-lo, claro –, é exatamente aí que o texto me parece mais autêntico.

 
 
 

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Geraldo Pereira de Barros
Geraldo Pereira de Barros
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